Histórico e qualidade da BP3: pesquisadores apresentam importantes resultados
Estudos e pesquisas sobre o histórico e a qualidade da água da Bacia do Paraná 3 (BP3), que abastece o Reservatório da Itaipu, deram o tom do primeiro dia da terceira edição do Workshop do Núcleo de Inteligência Territorial (NIT): Dados, Informações e Conhecimento a Serviço da Gestão Territorial e Segurança Hídrica.
No âmbito das águas superficiais, a Dr. Adriane Calboni, da Universidade Federal do ABC (UFABC) e bolsista do NIT, apresentou os efeitos da cobertura do solo sobre a provisão de serviços ecossistêmicos associados aos recursos hídricos do reservatório.
As mudanças dos usos da terra afetam os ecossistemas naturais e, consequentemente, impactam diretamente nos recursos hídricos, com a BP3 não seria diferente.
As ações de conservação do solo promovidas por Itaipu como terraceamento, técnicas conservacionistas de cultivo, restauração de matas ciliares e recuperação de nascentes, serviram como base para o estudo de caracterização do histórico de qualidade da água, a partir de dados coletados por 17 estações de monitoramento ativas em afluentes da BP3, entre os anos de 1989 e 2019, além de projetar as tendências para 2034.
Foram analisadas as 7 sub-bacias: Arroio Iguaçu, São Francisco Verdadeiro, São Francisco Falso, São Vicente, São João, Ocoí e Passo Cuê. |
Para estimar os índices relacionados aos serviços ecossistêmicos, foram analisados parâmetros da base de dados da Itaipu como Sólidos totais, Sólidos em suspensão, Turbidez, Condutividade elétrica, Demanda bioquímica de oxigênio (DBO 5 dias), Oxigênio dissolvido Saturação de oxigênio, pH, Fósforo total, Nitrato, Nitrito, Nitrogênio amoniacal, Nitrogênio Kjeldahl, Coliformes totais e Coliformes fecais.
Segundo Adriane, “para a maioria dos casos (68,5%), não houve tendências nem de melhora nem piora”. |
Uma nova maneira de monitorar sistemas aquáticos
“Um livro que conta o histórico das transformações ambientais do reservatório em marcadores físicos e biológicos”, foi assim que definiu a Drª Luciane Fontane, da UFABC, que, ainda no contexto histórico do reservatório, apresentou a paleolimnologia: ciência multidisciplinar que usa as informações biogeoquímicas preservadas nos sedimentos para reconstruir as condições ambientais passadas, ou seja, trata-se da “memória do ecossistema aquático”.
Neste cenário, a paleolimnologia vem como uma importante ferramenta de contribuição para o monitoramento da qualidade da água e, ainda, a partir da análise de sedimentos, verificar a eficácia da implementação das práticas conservacionistas no território.
A pesquisa liderada pela Drª Luciane, tem como objetivo reconstituir as mudanças limnológicas em 2 sub-bacias e 1 microbacia (Ocoí, São Francisco Verdadeiro e Arroio Fundo) em longa escala temporal (ca. De 80-100 anos) - que abrange desde a fase rio, passando pela barragem, até a fase atual.
Os estudos estão avaliaram questões como: mudanças na velocidade de sedimentação ao longo do tempo; alterações nas fontes de matéria orgânica e identificação de sinais de eutrofização no registro.
"São Francisco Verdadeiro apresentou maior velocidade de sedimentação, enquanto Arroio Fundo apresentou decréscimo de velocidade", concluiu a palestrante. |
Segundo a pesquisa, é possível concluir, de forma preliminar, que a matéria orgânica depositada apresenta uma clara evidência de aumento na contribuição de soja no carbono orgânico depositado, especialmente a partir do ano 2000 – mesmo ano que houve aumento na taxa de sedimentação. Atualmente, há sinais claros de eutrofização na sub-bacia de São Francisco Verdadeiro.
Ainda sobre qualidade da água
Os impactos das atividades produtivas, especialmente as agrícolas, também foram pautadas pela Drª Bianca Amaral, pesquisadora do NIT, no painel sobre “Micropoluentes em águas superficiais e subterrâneas: a importância do monitoramento para segurança hídrica”. Segundo Bianca, o modelo de teste Screening (rastreio) utilizado nas últimas análises do Eixo Água NIT, demonstrou ser uma excelente ferramenta para nortear quais os prováveis poluentes presentes nos recursos hídricos. Além disso, o monitoramento de diversos agrotóxicos pode auxiliar na mudança de parâmetros reguladores e nortear estudos sobre possíveis efeitos tóxicos na biodiversidade. |
Aprofundando, literalmente, as questões que envolvem a qualidade da água na BP3, o Drº Gustavo Athayde, da UFABC, trouxe o panorama das “águas invisíveis” ou águas subterrâneas. De acordo com Gustavo, as pesquisas apontam que a BP3 depende das águas subterrâneas para seu desenvolvimento social e econômico. Sobre os efeitos negativos da superexploração e/ou contaminação dos aquíferos por fluidos superficiais, o pesquisador detalhou que "necessitamos complementar o monitoramento com ferramentas complementares para compreender onde estão as zonas mais produtoras, qual profundidade e a idade das águas subterrâneas". |